Qual o seu último momento com Ayrton Senna? O que você disse a ele? O que ele te falou?
Estas foram algumas das perguntas feitas pela reportagem aos entrevistados para o ‘Minha Última Volta Com Senna’, produção especial e original ESPN que estreia no YouTube e pela ESPN no Star+ na noite desta quarta-feira 1º de maio, data em que se completam 30 anos da perda do tricampeão de Fórmula 1.
A pessoa mais próxima do brasileiro naquele momento era a sua namorada, Adriane Galisteu, então uma jovem modelo com 21 anos recém-celebrados (18 de abril). “Eu estava na sala da casa dele, no Algarve [em Portugal], assistindo à corrida. Tinha falado com ele um pouco antes da corrida começar, no telefone, e ele tinha pedido para eu ir buscá-lo no aeroporto”, relembrou ela nos estúdios da ESPN, em São Paulo, dias antes de chegar aos 51 anos.
Infelizmente, Adriane não pôde receber Ayrton. O acidente fatal com a Williams na curva Tamburello, em Ímola, quando liderava o GP de San Marino, não permitiu que o desejo dele fosse atendido. E ela também teve um pedido não realizado.
“Eu me lembro de ter falado pra ele, pela primeira vez, não corre! Se tem alguém que pode não correr, é você. E ele falou: ‘Tá louca?’. Foi a resposta imediata dele”, disse Galisteu, que, como pode ser visto no especial, seguiu dando detalhes das últimas palavras ditas a ela por Senna, que hoje teria 64 anos de idade (nasceu em 21 de março de 1960).
Geraldo Rodrigues teve seu último contato com o astro brasileiro na ocasião
Senna explicou à namorada seus motivos para não deixar de correr naquele fim de semana trágico da Fórmula 1, que já tinha tido a morte do austríaco Roland Ratzenberger, durante o treino de sábado. E a sexta-feira, dia do gravíssimo acidente com Rubens Barrichello, marcou o último encontro com o brasileiro de outra pessoa com quem convivia bastante.
“O Rubinho se desgarra, bate o carro, aquele barulho. Eu pulei o muro e estava indo na direção do Rubinho, quando os seguranças não deixaram eu ar, porque estava chegando o safety car. Aí eu já fui para o centro médico. Quando eu cheguei lá, estava muito cheio de gente, cheio de jornalistas. Aí, de repente, eu vejo alguém pegar na minha camisa assim e me puxar. Quando eu olho, é o Ayrton me puxando. Ele falou: 'Vem por aqui, vamos entrar por trás'. E aí nós demos uma volta pelo centro médico. Tinha um portãozinho dessa altura. A gente pulou o portão e entramos direto na sala onde o Rubinho estava”, contou Geraldo Rodrigues, empresário de Barrichello por anos e, pela ocupação, assíduo frequentador do paddock da Fórmula 1 naquele tempo.
“O Rubinho estava deitado com todo mundo já plugando, cortando o macacão, e o Ayrton pediu para o Rubinho mexer os pés, mexer a mão e perguntou: 'como você está? Você está lúcido?'. Rubinho falou: 'está tudo bem'. Aí o Ayrton pegou no meu braço e falou assim: "fica com ele, ele está bem, mas eu vou classificar agora". E foi a última vez que eu conversei com ele”, completou.
Repórter viveu tarde de emoções com o piloto em Interlagos
Christian Fittipaldi, piloto que estava na pista quando houve o acidente fatal, é outro que contou ao ‘Minha Última Volta Com Senna’ os detalhes de tudo que viveu com Ayrton, desde quando o conheceu, ele ainda um garoto e o colega já rumando para a Fórmula 1, até o momento em que recebe a notícia da morte, dada por um companheiro de pistas estrangeiro, o finalndês J. J. Lehto.
Quem também conta riqueza de detalhes seu último encontro com Senna, no começo de 1994, é Mauro Naves. O jornalista da ESPN fez uma entrevista exclusiva com o brasileiro pela Globo à época, ou apuros dentro de um carro de luxo guiado pelo piloto no circuito de Interlagos, em São Paulo, e ainda ganhou das mãos do tricampeão um presente, o qual mostrou no especial. Trinta anos depois, jamais o usou. Ficou de lembrança.
“Eu achei muito bom quando não me chamaram [para entrar ao vivo], não sei o que ia falar quando ele ou ali [o corpo no carro de bombeiros], aproveitei e chorei um pouco calado”, afirmou, relembrando o momento que o lado humano falou muito mais alto.
Narrador estava presente no fatídico GP de San Marino em 1994
Bianca Senna também falou com a ESPN para o especial. “Ele me ensinou várias coisas que eu gosto até hoje... A última vez que eu o vi foi justamente em Angra, antes do final do ano, antes de ele ir para a Europa começar os treinos... Difícil essa pergunta. Eu falaria para ele voltar. Tenho muitas saudades”, afirmou a sobrinha de Ayrton, uma criança na época da morte.
Os jornalistas Nilson Cesar, para quem Senna como esportista brasileiro só está abaixo de Pelé, e Luciano Borges são outros que participaram do ‘Minha Última Volta Com Senna’, e revelam bastidores de entrevistas e conversas, além de outros momentos memoráveis, de um dos maiores pilotos de todos os tempos.
Com isso, o ‘Minha Última Volta Com Senna’ é um especial que reúne tudo sobre o ícone brasileiro, dentro e fora das pistas. Descobrimos suas qualidades, o tamanho da idolatria que ele nutria no Brasil, conversas, secretas ou não, e como estava a cabeça do piloto momentos antes de correr no GP de San Marino em 1994. Vemos múltiplas perspectivas sobre a fatídica batida. Seus amigos, familiares, entrevistadores e colegas de profissão pintam a figura de Ayrton, desde seu primeiro convívio com ele, até o legado do piloto que ainda carregam em si e levam para o mundo todo.
E neste simbólico 1 de maio, trinta anos depois do acidente, descobrimos e redescobrimos que ele era competidor, ídolo, vencedor, piloto, amigo, parente, namorado e até mesmo um herói. Mas, acima de tudo, lembramos que ele é, mais do que qualquer coisa, o Ayrton Senna, do Brasil.