A carreira de um atleta profissional é apontada por muitos como fácil, já que muitos deles ganham muito dinheiro e são grandes estrelas. Mas a realidade que muita gente não sabe é o tanto que a maioria deles sofre até chegar ao topo.
Rachaad White, running back do Tampa Bay Buccaneers, é um grande exemplo disso. Até chegar ao sonho de jogar na NFL, ele e sua mãe aram por situações bastante desagradáveis. Tudo começou em 2006, seu último ano de ensino médio, época em que já se destacava no futebol americano, mas ou por uma grande frustração, quando foi um dos indicados, mas não o vencedor durante o Thomas A. Simone Memorial Football Award, prêmio concedido todos os anos ao melhor jogador do ensino médio de Kansas City
Apesar da tristeza, foi no caminho de volta para casa que ele ouviu de sua mãe, Rochelle, algo que até hoje ele utiliza como motivação.

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"Como você se sente agora?", questionou sua mãe. "Nunca deixe ninguém fazer você se sentir assim novamente".
E foi muito por isso que ele não desistiu. "Fiquei magoado. Fiquei magoado, com certeza. Nem fui votado como finalista, fui semifinalista... Já estava chateado porque não estava recebendo nenhuma oferta de bolsa de estudos. Senti como se tivesse me decepcionado, decepcionado minha família, decepcionado as pessoas".
Desde muito cedo, Rachaad já se sentia pressionado, na obrigação de cuidar de sua mãe e de seus três irmãos, Antoine, Darrioine e DeAndre, já que seu pai, viciado em drogas, permaneceu na cadeia por grande parte da sua infância.
"Ele estava preso quando eu tinha oito anos e voltou quando eu era calouro no ensino médio".
Tentando viabilizar o sonho do filho, Rochelle tinha dois empregos. De dia, era motorista de ônibus escolar, enquanto no período noturno trabalhava em um posto de gasolina. Rotina complicada, mas que sofreu um baque forte com um telefonema que recebeu na madrugada de 30 de junho de 2016.
Um de seus filhos, Darrioine, então com 22 anos, foi baleado enquanto levava um amigo para casa. Os médicos deram-lhe 6% de chances de viver, segundo Rochelle, probabilidades que ele superou depois de um mês no hospital.
"Isso quebrou minha mãe. E teve um impacto enorme na minha vida... Simplesmente me mudou".
O incidente serviu para deixar ainda mais forte em Rachaad o sonho de deixar Kansas City para se tornar um jogador de futebol americano profissional. Em 2017, ou a frequentar uma escola no Nebraska. Em sua temporada de estreia, não atuou em nenhum jogo, mas ganhou o apelido de "Pequeno Le'Veon", em homenagem ao ex-running back da NFL Le'Veon Bell, que brilhou com a camisa do Pittsburgh Steelers. Muita gente dizia que se ele se saísse bem na faculdade, poderia ser recrutado por uma faculdade de elite e teria uma chance muito maior de realizar seu sonho da NFL.
No ano seguinte, White se transferiu para o Mt. San Antonio College, um colégio em Walnut, Califórnia, uma mudança que foi contra a vontade de sua mãe. "Liguei para toda a família e tudo mais, e queria que eles o fizessem desistir, mas ele era teimoso e decidiu ir. Eu disse: 'Bem, como você vai chegar lá?' Ele disse: 'Eu pagarei sozinho'".
À essa altura, o pai de White começou a se comunicar com ele regularmente, tentando compensar sua ausência na infância. Ele começou a enviar dinheiro para seus filhos. Rachaad optou por economizar e usou esse dinheiro para comprar uma agem de avião só de ida para a Califórnia.
Rochelle também lhe enviava dinheiro, mas isso não cobria o alto custo de vida na Costa Oeste. Porém, o atleta temia que, se contasse como as coisas estavam ruins, ela tentaria convencê-lo a voltar para casa.
Nessa época, Rachaad White e seus companheiros juntavam o dinheiro e tentavam amontoar mais de 10 pessoas em um apartamento. Alguns tinham que dividir sofás ou colchões no chão, além de utilizar a criatividade para que todos pudessem ter um lugar para descansar a cabeça. Às vezes, ele dormia até mesmo no chão.
"Quando cheguei lá, estava dormindo na sala", disse, lembrando que morou em seis apartamentos diferentes nos dois anos em que jogou no Mt. San Antonio.
"Foi uma época de loucura", disse Zach Rangel, companheiro de equipe de White na época. "Era muito instável. Você simplesmente não sabia o que iria acontecer. Eram despejos, luzes se apagando, água saindo - sempre havia algo novo. Você assinava um contrato de aluguel e, eventualmente, um de seus companheiros de equipe era despejado. Você olha e tem 14 caras em um apartamento de dois quartos e um banheiro".
E foi justamente o relacionamento com o colega que fez com que White conseguisse sobreviver na Califórnia. "Nós nos apoiamos. Tínhamos uma regra desde o início. É difícil fazer isso sozinho. Fizemos um pacto de que, não importa em que apartamento ficássemos, teria que caber dois de nós para que pudéssemos ir", disse, explicando que até mesmo a alimentação eles dividiam.
Enquanto tinha sucesso em campo, correndo para 1.264 jardas e 10 touchdowns em seu segundo ano, o atleta conciliou o futebol americano com outros trabalhos para ajudar a pagar as contas. Um deles foi de segurança no festival de música Coachella, onde viu Todd Gurley, então estrela do Los Angeles Rams.
"Cara, vá tirar uma foto", disseram-lhe os colegas de trabalho, mas ele recusou. "Da próxima vez que eu for ao Coachella, serei o cara... e nem estarei trabalhando", respondeu.
Pouco tempo depois, recebeu o convite para atuar em Arizona State, uma das faculdades que mais fornece atletas para a NFL.
E seu impacto foi imediato. Ele correu para 1.006 jardas e fez 15 touchdowns, além de 456 jardas de recepção, com mais um touchdown, em 2021. Números mais do que suficientes para que ele fosse selecionado na terceira rodada do draft de 2022, pelos Bucs.
"Lembro-me de estar lá no dia do recrutamento no Arizona. Fiquei orgulhoso dele. Não acho que exista pessoa mais merecedora do que Rachaad", disse Rangel, que ainda conversa regularmente com o colega.
Em seu ano de estreia na NFL, Rachaad White ficou a maior parte do tempo na reserva de Leonard Fournette, e estreou na semana 10, em uma partida contra o Seattle Seahawks, no primeiro jogo da história da temporada regular da NFL disputado em Munique, na Alemanha.
E ele foi muito bem, correndo para 105 jardas e ajudando os Bucs a vencerem o confronto na reta final, já que Fournette estava fora da partida por conta de uma lesão no quadril.
O desempenho foi o suficiente para que Tampa Bay quisesse que ele seguisse no time para a atual temporada, na vaga justamente de Fournette, que deixou a equipe e recentemente assinou contrato com o Buffalo Bills.
A temporada de 2023, sua primeira como titular, segue repleta de altos e baixos para White. O pior momento foi certamente uma falha contra o Philadelphia Eagles, na semana 3.
Foi então que recebeu mais um conselho valioso de sua mãe: "volte a sorrir". E foi justamente o que ele fez na semana seguinte, em uma vitória sobre o New Orleans Saints. Contra Atlanta Falcons e os Bills, apesar de duas derrotas, ele foi novamente bem, com direito a recorde de jardas de recepção.
Mais do que suficiente para que ele mudasse seu discurso: "Às vezes nem sempre é sobre como você começa, mas sim como você termina".