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Hoje desempregado, sobrevivente de incêndio no Ninho deixou Flamengo, mas leva tragédia na pele e na memória

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Sobrevivente do Ninho conta como escapou do incêndio: 'Única solução que tinha' (0:50)

Cauan Emanuel, ex-jogador da base do Flamengo, conversou com o ESPN.com.br (0:50)

Cauan Emanuel Gomes Nunes havia dormido pouco mais de duas horas quando acordou assustado no alojamento do Ninho do Urubu. Ainda que fosse pleno verão no Rio de Janeiro naquele 8 de fevereiro de 2019, o quarto costumava ser muito frio por causa do ar-condicionado, a ponto de o jovem jogador da base do Flamengo precisar de cobertor.

Por isso, ele estranhou quando sentiu um forte calor e ouviu gritos desesperados dos colegas no meio do que descobriria ser um incêndio.

"Só percebi que o fogo estava alto depois. Eu fui atrás da janela, porque era a única solução que tinha. E aí comecei a cambalear e tentar quebrá-la, mas não conseguia. Nisso, o monitor me ajudou depois que dei um pisão. Ele jogou uma pedra e quebramos", disse Cauan, ao ESPN.com.br.

A ação salvou a vida do atacante, do goleiro Francisco Dyogo Bento Alves e do zagueiro Jhonata Ventura, que foram para os alojamentos do time profissional antes de serem encaminhados para hospitais. No entanto, outros dez garotos perderam a vida naquela madrugada.

Os nomes dos colegas mortos e a data do incêndio no Ninho do Urubu viraram uma tatuagem no braço de Cauan.

"Vai ficar para sempre na minha vida, né? Foi uma coisa que não tem como esquecer. É um momento triste, mas precisamos superar. A gente tem que orar, pedir a Deus proteção para as famílias que perderam seus filhos, que eram muito importantes".

Depois de ar três dias internado, Cauan foi para a casa da família em Fortaleza por cerca de dois meses.

"Para falar a verdade, não tive mais vontade de voltar (ao Flamengo). Eu acho que eu fiquei com aquele receio, mas tinha que correr atrás do sonho não podia desistir".

No retorno à Gávea, ele disse que teve acompanhamento psicológico no clube.

"Eles me deram no começo me deram e nos treinos com uma psicóloga, mas eu não quis. Achava que estava tudo bem para voltar a jogar, mas não estava".

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Sobrevivente do Ninho diz que errou ao não continuar com ajuda psicológica: 'Por isso saí do Flamengo'

Em entrevista ao ESPN.com.br, Cauan Emanuel revelou com ose sentiu após o incêndio no CT

O atacante retornou bem ao futebol e até assinou o primeiro contrato profissional quando completou 16 anos. No entanto, não conseguiu manter a cabeça boa por muito tempo.

"Depois de um tempo eu comecei a não jogar, achar que o problema era o clube, mas às vezes acho que era eu. A minha ação psicológica resultou na minha saída do Flamengo".

"Eles falaram que estavam incomodados por eu não jogar o Brasileiro. O problema é que se jogasse, depois não poderia ir para outro clube. Tinham outros times procurando por mim e fiz um acordo", explicou.

Como não estava jogando com muita frequência, o atacante deixou a Gávea na metade de 2021 e foi embora para a base do Fortaleza.

"Fiquei com a minha família e as pessoas que eu amava para poderem me apoiar. Quando eu cheguei fui destaque em competições e pude contribuir com o clube. Tive boas experiências e um crescimento".

Neste período, Cauan virou pai de um menino e disputou vários torneios. No final do ano ado, o contrato com o Fortaleza se encerrou e não foi renovado. Por isso, ele procura um novo clube para seguir a carreira, aos 19 anos.

"Consigo enxergar que foi um erro meu não ter continuado no e psicológico. Hoje eu escuto mais e sei o que devo fazer. Estou bem e treinando para uma nova oportunidade. Não importa qual seja, eu vou agarrá-la".


Posicionamento oficial do Flamengo sobre os cinco anos do incêndio no Ninho do Urubu:

Amanhã fará cinco anos da maior tragédia da história do Flamengo. Perdemos dez jovens atletas e não podemos - nem queremos - esquecer disso. Temos que rememorar nossos jovens eternamente, a cada dez minutos de cada jogo e sempre.

Será um dia muito difícil para as famílias daqueles dez jovens atletas e isso consterna a todos nós e nossa grande torcida. É dia de lamentar e de pedir a Deus por eles. Dia de nos solidarizarmos com as famílias e dar condolências.

O clube recebeu várias consultas de muitos veículos de comunicação. Sinteticamente, o clube tem a dizer o seguinte:

Desde o trágico dia, o clube prestou toda assistência às famílias, tanto psicológica, como financeira.

Após algum tempo e independentemente de processo judicial, o clube firmou acordo com nove das dez famílias que tiveram vítimas fatais e com todos os sobreviventes. Essas famílias consideraram justos os valores da indenização e os aceitaram.

A única família que não aceitou o acordo recebe, mensalmente, uma pensão do clube, independentemente de processo judicial, e o Flamengo continua aberto para alcançar uma composição com eles, a quem muito preza.

O Flamengo tem o maior respeito e carinho pelas famílias, de modo que externamos aqui, mais uma vez, nossos mais sinceros sentimentos a todos.

SRN