Às vezes, o trabalho de um olheiro é fácil. Você vê um jogador tão escandalosamente talentoso, tão acima de seus companheiros que não parece haver dúvida ou risco. A questão é: se você conseguirá chegar lá primeiro para contratá-lo.
Neymar e Sergio Aguero são exemplos, em meus próprios cadernos antigos, de talentos sobre os quais enviei relatórios obrigatórios, junto com o resto do mundo! Mas, enquanto olheiros e diretores esportivos estão felizes em compartilhar histórias de sucesso, é bom lembrar que, às vezes, nós também erramos. Prevê-se que alguns nomes tenham carreiras brilhantes, apenas para nunca atingir seu potencial.
Aqueles de nós que assistiram ao colombiano Johnnier Montano de 16 anos no Torneio de Toulon de 1999 --o principal torneio de vitrine para jogadores menores de 20 da época-- podiam ser perdoados por pensar que tinham visto a próxima grande estrela sul-americana. Juan Roman Riquelme havia brilhado pela Argentina no evento de 1998 e estávamos ansiosos para ver se haveria alguém da sua qualidade no próximo ano.
O que Montano fez foi nada menos que espetacular. Em seu papel de camisa 10, ele finalizava de longa distância com um maravilhoso pé esquerdo, ava pelos adversários com facilidade e tabelava com seus companheiros de equipe. Havia praticamente tudo o que você queria de um meia atacante, bem na frente dos seus olhos, cortesia de um adolescente colombiano desconhecido.
A virada do século ocorreu aproximadamente uma década antes de a pesquisa de vídeo --muito menos os serviços de streaming como o Wyscout ou o InStatScout-- existirem, por isso a informação confiável era escassa. Tal era o burburinho em torno de Montano que havia uma pressa de ser o primeiro a telefonar para os chefes. Para decepção de muitos, porém, surgiu a notícia de que Montano havia se comprometido com Parma
Os então ricos italianos devem ter pensado que haviam contratado outro Faustino Asprilla, outro colombiano que empolgou na Itália, e quem poderia culpá-los? Montano parecia uma estrela em formação e naquele mesmo ano --com o Troféu Toulon e o prêmio de melhor jogador do torneio-- jogou a Copa América, onde se tornou o artilheiro mais jovem da história a anotar um gol na vitória da Colômbia por 3 a 0 diante da Argentina.
Mas ele não se firmou na Itália, fazendo apenas uma partida pelo Parma e mais algumas por Verona e Piacenza, onde jogou por empréstimo. Depois de ar o começo dos seus 20 anos na Colômbia, Montano foi para o Peru, onde, com exceção de breves participações no Qatar e na Turquia, ou o resto de sua carreira, tendo sucesso com clubes como Alianza Lima, USMP e Sport Boys.
Outro talento em exibição na França foi Daniel Montenegro. Quatro anos mais velho que Montano, o craque argentino era mais estruturado e maduro, mas havia um consenso geral de que seu "pico" seria nível Champions League, enquanto não havia limites para Montano.
Montenegro jogou um tempo no Olympique de Marselha, como resultado de se destacar em Toulon, embora seus destaques de carreira tenham acontecido na frente de multidões em sua terra natal ou no América, do México.
Seu compatriota Andres D'Alessandro teve uma história semelhante: estrela como um jovem em casa, lutou para atingir seu potencial na Europa, apenas para retornar à América do Sul e se tornar ídolo do Internacional.
Em 2011, olheiros europeus se reuniram na cidade peruana de Arequipa, no sul do país, para o Campeonato Sul-Americano Sub-20. Embora o torneio seja mais lembrado por uma seleção incrível do Brasil, composta por Neymar, Lucas Moura, Casemiro, Alex Sandro e Danilo, o que mais chamou a atenção foi o surgimento de Juan Iturbe, de 17 anos. Ele já estava sendo olhado de perto no time principal Cerro Porteño.
À primeira vista, o corpulento e explosivo Iturbe parecia ter a intensidade de Carlos Tévez e a habilidade de 1x1 de Lionel Messi. Embora ele tenha se destacado e frustrado em medidas iguais, Iturbe possuía a vantagem bruta do "jogador de rua", quase exclusivo dos atacantes argentinos.
Dificilmente havia um olheiro em Arequipa, que não estava preparado para ir para cima dele, mas, não pela primeira vez, o Porto estava um o à frente e correu para garantir um acordo com os empresários e a família do jogador enquanto o torneio acontecia. Lugar certo, hora certa.
Nove anos depois, e ainda com apenas 26 anos, Iturbe está tentando reencontrar seu futebol no México. Ele ou uma temporada boa em 2014-2015 pelo Verona, o que levou a uma transferência de 20 milhões de euros para a Roma, mas desde então sua carreira consistiu em empréstimos fracassados, incluindo um para a Premier League, onde ele jogou apenas quatro partidas pelo Bournemouth.
A lista continua.Muitos vão se lembrar de Florent Sinama Pongolle, que foi para o Liverpool após uma notável série de nove gols na Copa do Mundo Sub-17 de 2001, enquanto Souleymane Coulibaly conseguiu um contrato com o Tottenham depois de alcançar o mesmo recorde na mesma competição. Previa-se que ambos tivessem grandes futuros, mas nenhum conseguiu ter um desempenho consistente.
Entre muitos exemplos dos últimos anos, Lazar Markovic é provavelmente o mais extremo da discrepância entre potencial e produto final. O meia sérvio, que foi comprado pelo Liverpool do Benfica por 25 milhões de euros no verão de 2014, acabou de completar 26 anos e ainda tem tempo a seu favor, mas como ele foi de um dos jovens mais cobiçados a recomeçar a sua carreira no Partizan Belgrade é um grande mistério.
A integração de dados e análises, bem como uma variedade de vídeos, melhores fontes e uma gama maior de informações certamente ajudaram os clubes a reduzir o elemento de risco nas transferências. Para o jogador, no entanto, escolher o ambiente e o treinador que melhor atenda às suas necessidades --dentro e fora do campo-- permanecem aspectos críticos quando se está começando uma carreira.
Quanto aos olheiros, cujo trabalho é identificar a habilidade primeiro, a busca pelo próximo grande jogador nunca para. Na verdade, quem está lendo pode gostar de saber que Johnnier Montano Jr. acaba de ser convocado para a seleção sub-16 da Colômbia ...
Tor-Kristian Karlsen é um olheiro norueguês, ex-diretor executivo e diretor esportivo do Monaco. Em sua mais recente coluna sobre negócios no futebol, ele analisa alguns dos jogadores que não conseguiram confirmar a impressão que causaram ao entrar em cena.