No dia em que completa 30 anos, Fernando Marçal vai ganhar de presente o jogo mais importante de sua carreira. Ele estará em campo pelo Lyon, que enfrentará o Barcelona pela primeira partida válida pelas oitavas de final da Uefa Champions League.
Pouco menos de uma década atrás, o brasileiro vivia uma realidade completamente diferente: após ter seu vínculo encerrado com o Grêmio, ele ficou desempregado.
“Estava sem perspectivas e fui jogar bola em um (campo de futebol) society com um amigo chamado Juninho Botelho, que tinha jogado comigo no Grêmio. Ele me disse: ‘Tem um empresário de Fortaleza que me disse que em Portugal estão precisando de um lateral esquerdo. Você não quer tentar? Respondi: ‘Manda meu DVD’. Só que eu ainda não tinha um (risos)”, contou ao ESPN.com.br.
“Fui pedir ajuda ao meu cunhado, que baixou um programa. Nós amos a madrugada toda editando o DVD, até de manhã cedo do dia seguinte. Ele era gerente da Caixa Econômica, só tomou banho e foi trabalhar virado. Eu não tinha muitos jogos para colocar, mas esse dia foi crucial na minha vida. Logo que terminamos eu mandei o vídeo para o meu amigo, que reou ao empresário”, relatou.
No final do dia, Fernando recebeu a notícia de que estava tudo certo para ir supostamente a um time da 2ª Divisão de Portugal. “O problema é que nos primeiros seis meses eu não poderia ir com a minha esposa e o nosso filho de sete meses, pois iria morar no alojamento. Respondi: ‘Não tem problema, só não quero ficar desempregado como muitos amigos meus’”.
O brasileiro chegou sozinho ao Torreense, um pequeno clube que fica em Torres Verdes, cidade próxima à Lisboa.
“O estádio era pequeno e tinha uma estrutura bem simples. Falei com o presidente e percebi que a 2ª Divisão era a Série C de Portugal! (risos). Mas já estava lá, fingi que nada estava acontecendo e fui trabalhar. Assinei contrato e o pessoal foi bem receptivo. Lembro que quando cheguei ao Torrense, disse que meu objetivo era chegar a um time grande e o pessoal deu muita risada”, relatou.
Sem chances no Grêmio 662c6a
Natural de Itaquera, zona leste de São Paulo, Fernando Marçal ajudava seu pai no trabalho de descarregar caixas de ovos nas horas vagas equanto lutava para ser jogador. O lateral ou pelas categorias de base de Portuguesa, Corinthians e Primavera de Indaiatuba-SP, até chegar ao Grêmio.
"Na minha transição para o profissional, houve mudança de direção, com as saídas foi presidente Paulo Odone e do diretor Rodrigo Caetano. Eu era titular quando fomos campeões da Taça BH, de um torneio na Itália e do Brasileiro sub-20. A nova direção chegou e ou a emprestar, vender ou mandar embora o pessoal que não tinha subido", afirmou.
"Veio uma proposta do Olympiacos-GRE, que tinha me visto na base. Pedi liberação ao clube porque já tinha feito três anos de juniores e não subia. O Mauro Galvão não me deixou sair. Quando fechou a janela, me disseram pouco depois que poderia sair. Vieram o Caxias e o Guaratinguetá. Queria provar para mim mesmo que poderia jogar em um lugar diferente e me mudei para São Paulo", contou.
Depois de conseguir o o para a Série A1 do Paulista, Fernando teve seu vínculo encerrado com o Guará.
"Tinha a opção para prorrogar meu contrato até o fim da Série B do Brasileiro, mas sem aumentar meu salário. Meu empresário na época disse que tinha uma oferta de um time da Série A e para não nada", recordou.
"Na hora, eu comprei minha agem para minha esposa e meu filho, que tinha 7 meses, para nossa casa. Peguei as minhas coisas e fui embora. Fiquei esperando a oferta. aram-se quatro semanas e não veio nada. Liguei para o empresário, que me disse que não deu certo. Para piorar, o Guará e o Caxias já tinham contratado lateral", afirmou.
E foi essa combinação de fatos que o acabou levando para Portugal.
Sucesso e tristeza em Portugal 3g4m6k
ados apenas seis meses no time, Fernando recebeu ofertas do União Leiria e do os de Ferreira, mas o presidente do Torreense se recusou a vendê-lo.
“No fim da temporada chegaram o Marítimo, da Ilha da Madeira e o Leiria veio de novo. Mas o Leiria não estava pagando e foi rebaixado. Fui para o Marítimo para ser observado e, depois de uma semana, fiz um amistoso e marquei um gol. Achei que ia dar certo, mas não houve acordo entre os presidentes, e voltei. aram-se seis meses, e o Nacional me contratou”, recorda-se.
Nas três temporadas que jogou na elite, o lateral se destacou e foi cobiçado por grandes equipes de Portugal.
“Foi um o enorme na minha vida. Estava tudo certo com o Sporting, faltavam uns detalhes bobos como quantidade de agens aéreas, nem era salário. Mas ficou naquele ime e o Benfica, de última hora, me contratou. Eles eram os atuais campeões e eu havia sido pedido pelo treinador Jorge Jesus uma temporada antes, mas o Nacional não me vendeu”, contou.
“Eu assinei um pré-contrato com o Benfica em março e estava contente. Joguei até o fim da temporada normalmente. Nesse meio tempo muitos jornalistas me procuraram e eu havia falado nas entrevista que estava feliz de poder trabalhar com o Jesus e o elogiei muito. No fim da temporada, soube que ele ia sair do Benfica para o Sporting, o maior rival. Acho que isso não caiu muito bem”, lamentou.
Com a saída de Jesus e a chegada do técnico Rui Vitória, Fernando sentiu um clima estranho no Estádio da Luz.
Cheguei ao Benfica e não fui mal recebido, mas fui apenas recebido. Não tive um tratamento aconchegante, o treinador pouco ou nada falava comigo. Fiz a pré-temporada sem oportunidade nenhuma em partidas oficiais. Fui bem nos amistosos que fiz, mas, antes do fim da pré-temporada, me disseram que não contavam comigo e que poderia procurar um time”, recordou.
O clube que apareceu para o brasileiro foi o Gaziantepspor-TUR. “Coloquei na balança que poderia ficar no Benfica e não ser aproveitado, nem mesmo indo para o banco, ou ir para a Turquia. Eu me conheço, ei a vida toda jogando. Quando tem outro jogador que é melhor que você na opinião do treinador você respeita e precisa trabalhar. Mas quando você chega a um lugar em que nem é bem recebido, acaba ficando um pouco frustrado. Não quis ficar no Benfica para ar um ano frustrante”, itiu.
Destaque na Liga Turca 2015/16, ele voltou na temporada seguinte ao Benfica com outra condição, mas ainda fora dos planos.
“O treinador era o mesmo e até conversou mais comigo, mas eles optaram por me emprestar de novo. Recebi boas ofertas da Turquia para ganhar bastante dinheiro e outras da França, do Bastia e do Guingamp. Tenho uma escola gaúcha de combates e choques, além da técnica do jogador brasileiro. Achava um torneio interessante porque tem muitos jogadores fortes e rápidos. Resolvi testar para ver”, relatou.
Após pegar boas referências com ex-colegas de equipe, ele foi para o Guingamp, no qual ou por um ano.
“Minha ideia era não voltar ao Benfica. Antes de terminar o campeonato veio interesse de Bordeaux, Monaco e Saint-Etienne e Lyon. Optei pelo Lyon por ser um time grande que foi campeão muitas vezes e tem uma história linda com brasileiros”, afirmou.
“Aqui é muito bom de se trabalhar e um clube com uma base que revela muitos caras. A estrutura é top", elogiou.
Parando o City na Champions 1y195o
Desde 2017 no time francês, Fernando Marçal jogou a fase de grupos Champions League nesta temporada. O principal jogo de sua carreira foi o empate em casa com o Manchester City (2 a 2) pela fase de grupos.
“Quando estamos na base, você vê pela televisão e sonha com isso. Pena que a vitória escapou pelas nossa mãos", relatou.
“Outro jogo especial para mim foi clássico contra o Saint-Etienne pelo Francês, os torcedores não querem que a gente perca. Vencemos e estreei como terceiro zagueiro, uma posição nova para mim. Foi legal porque fui para até a seleção da rodada”, comemorou.
O próximo desafio do Lyon será contra o poderoso Barcelona.
“Nosso grupo tem uma mentalidade vencedora. Somos unidos, temos uma defesa muito sólida e um ataque eficiente. Obviamente que será muito difícil, mas acredito que podemos sair com a vitória e conseguir a classificação. Provamos durante a campanha que temos condições de jogar de igual para igual com qualquer time do mundo. Sabemos que mata-mata é diferente e requer um nível de atenção especial. São jogos assim que fazem grandes jogadores e monstram ao mundo do que somos capazes”, diz Marçal.
“Olhando para atrás, minha vida foi uma escadinha e fui subindo degrau por degrau. Espero que seja mais um o para eu ir mais longe ainda”, finalizou.