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Hoje maestro de Portugal, Moutinho já foi 'Judas' e 'maçã podre' quando trocou de rivais por 'mixaria' 3e6235

João Filipe Iria Santos Moutinho é só mais um dos inúmeros casos daqueles jogadores que decepcionam a torcida de um clube grande por terem virado casaca e irem jogar em seu grande rival.

Hoje um dos 23 convocados pelo técnico Fernando Santos para integrarem a seleção de Portugal na Copa do Mundo da Rússia, em junho, o meia de 31 anos chegou muito novo ao Sporting, com apenas 13 anos de idade, após destaque nas escolinhas do pequeno Portimonense, time da sua cidade natal, Portimão.

Baixinho, habilidoso e com ótimo e, Moutinho chamou a atenção da diretoria dos "Leões", que já o imaginavam como um dos próximos craques a arem com marcas importantes pelo clube, assim como fizeram lendas como Paulo Futre, Luis Figo e Cristiano Ronaldo.

E foi tudo muito rápido para ele.

Aos 18 para 19 anos, estreou entre os profissionais do Sporting e, logo em sua primeira temporada, foi eleito a revelação do Campeonato Português. Um ano depois, o armador conquistou ainda mais a confiança dos diretores e da torcida, recebendo, inclusive, a tarja de capitão com só 20 anos e o status de ídolo máximo do clube.

Toda a idolatria, contudo, começou a ir por água abaixo a partir de 2008. Foi naquele ano que Moutinho decretou que não gostaria mais de atuar com a camisa alviverde e entrou em grande polêmica ao ser flagrado em um almoço com dirigentes do grande rival Porto, um deles o presidente Nuno Pinto da Costa, e seu agente, o israelense Pini Zahavi.

Apesar da confusão e dos pedidos para deixar o Estádio José Alvalade, o meia seguiu jogando pelo Sporting naquela temporada, a qual acabou eleito o melhor jogador lusitano do ano, prêmio entregue pela Rádio Clube Português.

Mas já não havia mais clima para Moutinho seguir no time que o revelara. Tudo isso, aliás, ficou exposto após as fortes declarações do então presidente dos "Leões" à época, José Eduardo Bettencourt, logo após ele finalmente se transferir para o Estádio do Dragão, por apenas 11 milhões de euros (à época, aproximadamente R$ 29,1 milhões).

"Não podíamos continuar com uma maçã podre aqui, por isso não podíamos tomar outra decisão para não correr o risco de contaminar o plantel”, disse o mandatário, sem poupar críticas ao atleta. Segundo ele, João Moutinho chegou até a se recusar a treinar caso fosse impedido de ir para o Porto.

"O seu comportamento para comigo, a diretoria esportiva e a comissão técnica foi deplorável. Se não tivesse vivido esses acontecimentos, não acreditaria que ele seria possível de ser tão baixo. A única coisa de que nos arrependemos é de ter tentado proporcionar ao João Moutinho uma saída pela porta da frente. Ele não esteve à altura disso, mas, mesmo assim, mantivemos o nosso compromisso e cumprimos com tudo o que havia sido acordado", disse.

"Como atleta de alto rendimento, foi um exemplo; como homem, não deixa saudades”, completou Bettencourt.

Para a torcida, ele fora renomeado para "Judas Moutinho", em alusão à figura bíblica que traiu e entregou Jesus Cristo a seus captores. A raiva era tamanha, que fãs do Sporting chegaram a combinar uma recepção nada amigável ao jogador no primeiro clássico contra os portistas no Alvalade - a segurança, aliás, teve de ser reforçada para que nada de pior acontecesse.

Boa gente, ganhador de títulos e caro

E se o presidente do Sporting pensava que as duras palavras poderiam soar como uma maldição à sequência de carreira de Moutinho, viu o efeito contrário acontecer.

Apesar da "pecha" de conturbador de elenco, o meio-campista foi para seus companheiros de Porto, na verdade, um amigo.

"O João era um cara gente boa demais. Um cara muito humilde e conversava com todo mundo. Um dos mais próximos dos brasileiros e falava bastante com a gente", elogiou o atacante Walter, ex-Internacional, Cruzeiro, Goiás, Atlético-PR e hoje no CSA-AL, em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br.

"O cara tem uma qualidade monstruosa. É uma pessoa legal demais, não sei porque o presidente do Sporting falou aquilo. Quando se fala em maçã podre, eu penso um cara que não vale nada, que iria atrapalhar o grupo. João era totalmente ao contrário disso. Certeza que o presidente do Sporting deve estar arrependido de ter falado aquilo até hoje", completou o atleta que atuou pelos "Dragões" em 33 partidas entre 2010 e 2012.

No Porto, Moutinho acabou campeão de quase tudo: foram três títulos da Supertaça de Portugal, três do Campeonato Português, um da Taça de Portugal, além de outro da Liga Europa, conquistado em 2010/11 após bater os patrícios Sporting Braga.

"Nosso grupo era muito bom e só levantou o João. Além disso, tínhamos um treinador muito fera chamado André Villas-Boas, que soube fazer o time encaixar e vencermos muitos títulos", comentou o brasileiro.

Mais tarde, em 2013, após 140 partidas, dez gols, 31 assistências e oito títulos conquistados, Moutinho trocou a equipe portuguesa para ter seu primeiro desafio fora de seu país natal. O Monaco, com o e financeiro de seu bilionário dono, o russo Dmitry Rybolovlev, pagou 25 milhões de euros pelo atleta (o que à época se convertia em quase R$ 66 milhões), ou seja, mais do que o dobro do que os "Dragões" pagaram ao Sporting.

Juntando-se a antigos companheiros, como o atacante Radamel Falcao Garcia e o meia James Rodríguez, levantou mais uma taça, a de campeão francês, em 2016/17 - este já sem o meia colombiano, vendido ao Real Madrid.

"O Porto comprou barato e o cara virou ídolo e grande jogador. Depois, foi vendido. O presidente do Porto tirou muita onda e até falou: ‘eu quero sempre essa maçã podre no meu time’ (risos)", disse Walter.

Titular também na grande conquista internacional da seleção portuguesa, a Eurocopa de 2016, na França, Moutinho deverá ir para sua segunda Copa do Mundo - jogou a do Brasil, há quatro anos - e, agora, na Rússia, tentará ajudar a levar os lusitanos ao inédito e tão esperado título mundial.

Portugal estreia no dia 15 de junho contra a Espanha. Depois, enfrenta Marrocos, no dia 20 e, cinco dias mais tarde, o Irã.